segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Felícia

Desde criança já era claramente perceptível a intensidade dos meus sentimentos nas minhas exageradas demonstrações de afeto. 
Hoje em dia, vez ou outra leio em algum lugar ou ouço falar que abraços são curadores e que só fazem bem, como: "Abraços são casas quando não temos teto"; "abraçar é encostar um coração no outro"; "o melhor presente que você pode dar é um abraço: ele é tamanho único e ninguém vai se importar se você quiser devolve-lo"; e "o melhor lugar do mundo é dentro de um abraço". Ou, simplesmente: "hugs are good".
Lembro vagamente do lugar onde eu estava com meus coleguinhas de classe comemorando o aniversário de um deles. Festinha, comidinha, refrigerante, muita criança. Em uma rodinha, um sentimento do qual eu nem tinha consciência me fez dar um último-super-abraço em uma das minhas coleguinhas, antes de eu reparar no porquê dos meus abraços compulsivos. Depois do abraço, percebi que a reação dela não foi das melhores. No momento não dei muita importância, mas me retirei do local.
Andando pelo local da festa sozinha, ouvi pessoas reunidas conversando e me direcionei até lá pra me juntar a eles. Quando estava bem perto, estranhei a conversa e fiquei parada ouvindo, sem aparecer para eles. Eles estavam falando sobre mim, mas nada muito agradável. Eles diziam coisas do tipo:
- A Amanda é legal, mas ela fica abraçando toda hora! Aff!
- É mesmo! Ah não, que chata! Fica enchendo o saco.
- Nossa! Aqueles abraços dela...machuca!
Meu coração despedaçou naquele segundo. Acho que não queria mais ouvir aquilo e de alguma forma tinha que parar a conversa e dizer: "tô ouvindo, tá?!". Mas, sem pensar muito, apareci! 
Um minuto de silêncio da minha parte e da deles, até um delas quebrar o silêncio, dizendo:
- Eles estavam falando mal de você.
- Eu sei, estava ouvindo - eu disse.
Prontamente, todos foram se justificando:
- Eu não, eu não.
- Eu também não, elas que estavam.
- É, fulano e fulana.
Alguns, sem jeito, não vendo outra saída, se explicaram:
- Ah, eu só disse que você fica abraçando muito e é chato.
- É, machuca.
- O tempo todo.
Não me lembro o desfecho. Acho que fiquei por ali mesmo, pensando sobre minha atitude de abraçar tanto e tão forte. Não sabia disso, mas a partir daquele dia eu passei a concordar com elas, apesar de ter sido difícil ouvir aquilo e aceitar, rs.
Depois daquele dia, tentei ao máximo evitar esse tipo de demonstração de afeto com todos os meus coleguinhas.
Há dois anos atrás, conversando com minha analista, ela me chamou de "Felícia", se referindo ao amor e ao apego que tenho às pessoas. Claro, hoje não sou tããããão felícia como antigamente, mas reconheço essa minha essência e, depois de ter meu ego ferido, agora quando me lembro do que aconteceu dando risada.
Continuo abraçando muito sempre que tenho vontade, rs. Mas agora eu sei por que: "Abraços foram feitos para expressar o que as palavras deixam a desejar".

obs: Não sei ao certo os autores das frases entre aspas

"Eu vou abraçar, te beijar e te apertar até seus olhos pularem para fora e eu destruir todos os seus ossinhos" Felícia

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