Chegou mais uma vez um daqueles
dias que ele tanta espera. O despertador é poupado de sua tarefa, porque, embora
tivesse sido precavido de suas funções, nesses dias a ansiedade é sempre mais
ligeira.
A manhã é longa e comida nenhuma
tem saber. Mas, tudo bem! Nesses dias ele acredita que não há como evitar as
condições que antecedem tanta felicidade.
Almoça depressa tudo o que
consegue. Calcula o tempo que demora para se arrumar e sente a água quente pelo
corpo enquanto canta. Nada a pensar sobre o passado, só sobre o futuro próximo e cada
detalhe dele.
Enfim 13:30. De banho tomado,
aromatizado com o melhor perfume e com a roupa mais bonita e discreta que tem
no guarda-roupas, ele dirige o carro concentrado em desfazer-se do sorriso
largo.
- Que caralho de buracos e toda essa
chuva do verão! – fala em voz alta ao passar por um buraco, mas em seguida ri
de sua própria irritação desnecessária. Afinal, “a vida é tão boa hoje!”.
Continua seu trajeto quase que em oração para que o
trânsito coopere: cada segundo é fundamental.
Mais um encontro semanal. Ela
comenta sobre o perfume e ele finge naturalidade, como se nenhuma ação tivesse
sido pensada para que ela reparasse.
Frente a frente, novamente. Ele
repete em pensamento o tempo inteiro como está feliz em estar ali. A
conversa anda devagar. Ele esquece as palavras ensaiadas, treme a cada olhar e
ri desajeitadamente quando acha que o momento exige um sorriso. Todas as
palavras dela parecem entrar e sair da mente dele em questão de segundos. Para
ele, a presença dela basta e tudo mais está sobrando. Toda a semana sobra.
Ultimamente, as semanas estavam sempre cheias de sobras.
Tudo tão rápido! Agora já era hora
de concentrar em aproveitar cada segundo do abraço que planejara. Com vontade
de implorar para ficar e vontade de chorar, ele se despede educadamente,
tentando não errar os passos até sair do local.
Tudo certo, mas ainda nada resolvido.
O despertador dobra seu trabalho todos os dias, quase sempre sem sucesso...até
o próximo 7º dia.